Foto: Aprece |
O município de Salitre possui a maior taxa de pessoas não alfabetizadas no Cariri, com 28,15% de pessoas analfabetas, e ocupa o 4º lugar no ranking dos municípios menos alfabetizados do Estado do Ceará.. O percentual é ainda mais significativo para as pessoas pretas residentes na localidade: 38,33% da população dessa cor ou raça não é alfabetizada. Os dados são do Censo Demográfico 2022 - Alfabetização: Resultados do universo – Ceará, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na contramão, está Juazeiro do Norte, com 89,11% de pessoas alfabetizadas na população de 15 anos ou mais de idade. O maior município do Cariri também ocupa o 8º município entre os mais alfabetizados do Estado do Ceará.
Todos os municípios do Cariri, com exceção de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, possuem mais de 20% da população preta não alfabetizada. Deles, 19 têm taxas superiores a 30%. Tarrafas é o município com mais pessoas pretas de 15 anos ou mais analfabetas (41,05%), enquanto Juazeiro é o município caririense com menos pessoas pretas na faixa etária não alfabetizada (16,28%).
Como aponta Aparecida Furtado, coordenadora do Núcleo de Igualdade Racial Lélia Raízes integrado ao Coletivo Camaradas e militante da Unegro, isso representa claramente o fundo histórico do Brasil. “A escravidão, ao tirar toda a dignidade do povo preto durante séculos, fez com que, em vários fatores da vida cotidiana, estas pessoas sejam as mais afetadas. O nome disso é racismo estrutural. Este tipo de racismo está entranhado na estrutura da sociedade brasileira e, que por muitas vezes, é normalizada”, afirma Aparecida, que também é estudante de História. Como aponta, o fato de que as pessoas negras sejam os maiores alvos do analfabetismo diz muito sobre como a estrutura funciona.
A militante da Unegro relata que, no dia a dia, situações adversas fazem com que as pessoas negras não frequentem ambientes voltados à educação. “Muitas delas nem começam a estudar pelo fato de que necessitam trabalhar para ter o mínimo. Outros fatores, como a falta de estrutura familiar e de habitarem em lugares distantes das escolas, como em favelas, faz com que essa realidade seja ainda mais difícil”, pontua Aparecida, ao apontar a importância de implementar políticas públicas de ações afirmativas, como, por exemplo, as cotas, para que as pessoas tenham mais chances de fugir desta “normalidade” que tanto os marginaliza, que é o racismo estrutural.
(Joaquim Júnior/Jornal do Cariri)