Antônio Cruz\Agência Brasil |
Em entrevista publicada na noite desta
sexta-feira, 9, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou envolvimento
com a ideia de infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
na campanha do então candidato Lula (PT). Na entrevista, Bolsonaro atribui a
iniciativa ao ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o
general da reserva Augusto Heleno.
Essa possibilidade foi mencionada pelo general
da reserva durante a reunião de Bolsonaro com seus ministros no dia 5 de julho
de 2022, cujo vídeo foi apreendido pela Polícia Federal e divulgado pelo
Supremo Tribunal Federal nesta sexta, 9. "Em dado momento (da reunião), o
Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois lados. É o
trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma",
disse Bolsonaro na entrevista à TV Record.
"As inteligências, eu raramente usava as
que nós temos, das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal. Não vejo
nada demais naquilo. O Heleno queria se estender sobre o assunto, eu falei que
não era o caso. Vai fazer uma operação, faça. A Abin tem esse poder de fazer
operações para preservar as pessoas até", disse Bolsonaro.
Num trecho da reunião gravada Heleno diz: "Vamos montar um
esquema para acompanhar o que os dois lados (as campanhas) estão fazendo".
Momentos depois, Bolsonaro o interrompe. "General, eu peço que o senhor
não prossiga mais na tua observação aqui", diz. "A gente conversa em
particular, na nossa sala, sobre o que a Abin está fazendo", diz
Bolsonaro. A reunião aconteceu no Salão Leste, no segundo andar do Palácio do
Planalto. A gravação foi obtida pelo STF com o tenente-coronel Mauro Cid,
ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou acordo de delação premiada em
setembro do ano passado.
As informações de Cid foram usadas pela PF
para deflagrar a operação Tempus Veritatis, na última quinta-feira, 8, que
incluiu 33 mandados de busca e apreensão contra aliados de Bolsonaro. O próprio
ex-presidente teve o passaporte apreendido e está proibido de sair do país.
Além disso, quatro ex-assessores de Bolsonaro tiveram decretada a prisão
preventiva. Ao longo de uma hora e meia de reunião, Bolsonaro insiste que as
eleições de 2022 seriam fraudadas para dar a vitória a Lula e insiste que seus
ministros façam "alguma coisa" antes da data das eleições. (Agência Estado)