quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Em entrevista ao O Globo, Alexandre de Moraes revela que envolvidos do 8 de janeiro planejavam prendê-lo e enforcá-lo

Foto: Rousinei Coutinho/STF


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revelou nesta quinta-feira (4), em entrevista ao O Globo, que envolvidos na invasão à sede dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado, planejavam prendê-lo e enforcá-lo em praça pública. Contudo, apesar da gravidade da ameaça à época, o magistrado disse que manteve a tranquilidade e afirmou que "golpistas são extremamente corajosos virtualmente e muito covardes pessoalmente".

Na entrevista, que detalhou os desdobramentos das apurações sobre o episódio, Moraes também contou que estava com a família em Paris, na França, quando o filho mostrou as primeiras imagens dos invasores do Congresso.

Liguei imediatamente para o ministro Flávio Dino [da Justiça e Segurança Pública]. Perguntei a ele como tinham entrado, porque havia ocorrido uma reunião de órgãos de segurança em que tinha ficado proibida a entrada de manifestantes na Esplanada dos Ministérios. Num determinado momento, o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] também falou comigo. Ele e o Dino conversaram sobre a possibilidade de intervenção federal ou GLO [Garantia da Lei e da Ordem]. Quem decidiu foi o Poder Executivo, mas relembrei que, no tempo do presidente [Michel] Temer, houve possibilidade de intervenção só na área da Segurança, e talvez isso fosse melhor", disse o ministro.

Segundo Moraes, o que mais chocou naquele momento foi a "inação da Polícia Militar" diante dos ataques. "Afirmo sem medo de errar: não precisaria de cem homens do Batalhão de Choque para dispersar aquilo. O que precisávamos ver era qual a gravidade e a sequência", disse.

Das decisões tomadas naquele dia, o ministro do Supremo destacou três como as mais importantes: as prisões do então secretário Anderson Torres e do comandante geral da Polícia Militar, Fábio Augusto Vieira; o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e a determinação de prisão em flagrante imediata de quem permanecesse em frente a quartéis pedindo golpe de Estado. "Se tivéssemos deixado mais pessoas em frente a quartéis, poderia gerar mais violência, com mortes e distúrbios civis no País todo", assegurou.

Além disso, Moraes afirmou que "foi um erro muito grande das autoridades" deixar que as pessoas permanecessem em frente a quartéis. "Isso é crime e agora não há mais dúvida. O STF recebeu mais de 1,2 mil denúncias contra quem estava acampado pedindo golpe militar, tortura e perseguição de adversários políticos", lembrou.

'EU DEVERIA SER PRESO E ENFORCADO'

Segundo o ministro, na investigação do STF sobre o 8 de janeiro, foram descobertos três planos que pretendiam prendê-lo e assassiná-lo.

"O primeiro [plano] previa que as Forças Especiais [do Exército] me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E, o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes. Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição", contou.

Moraes admitiu, no entanto, na entrevista ao O Globo, que as investidas violentas eram "algo que já esperava". "Não poderia esperar de golpistas criminosos que não tivessem pretendendo algo nesse sentido. Mantive a tranquilidade. Tenho muito processo para perder tempo com isso. E nada disso ocorreu, então, está tudo bem".

O ministro ainda disparou: "Esses golpistas são extremamente corajosos virtualmente e muito covardes pessoalmente. Chegam muitas ameaças, principalmente contra minhas filhas, porque até nisso são misóginos. Preferem ameaçar as meninas e sempre com mensagens de cunho sexual. É um povo doente".

Por fim, de "lição" do episódio, o ministro disse na entrecista que fica a necessidade de "impedir a continuidade dessa terra sem lei das redes sociais". "Sem elas, dificilmente [os atos golpistas] teriam ocorrido de forma tão massiva", acredita.

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