sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Debate vira troca de acusações na reta final da campanha

 


O debate final do primeiro turno entre os candidatos à Presidência, nas Eleições 2022, nesta 5ª feira (29.set), teve um conflito, com troca de acusações e xingamentos entre os dois principais adversários, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além de Bolsonaro e Lula, participaram do debate na TV Globo os candidatos Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D'Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB).

O clímax foi o primeiro bloco. Teve Bolsonaro acusando Lula de líder de quadrilha sobre desvios na Petrobras, citando ligação do PT no caso da morte de Celso Daniel e em desvios em contratos de respiradores na Bahia. Teve Lula chamando Bolsonaro de líder das rachadinhas, de mentiroso e dando uma bronca olho no olho. 

A tensão, no entanto, perdurou nos quatro blocos. Mesmo no segundo, com perguntas por temas pré-definidos, em que o clima de enfrentamento foi amenizado, houve problemas. O debate chegou a ser interrompido após Lula e Padre Kelmon discutirem. A troca de ofensas foi evidenciada pela enorme quantidade de pedidos de direito de resposta: foram 20, com 10 sendo concedidos.


1º bloco

O primeiro bloco foi o ápice da troca de ofensas entre os presidenciáveis, representada pela enorme quantidade de pedidos de direito de resposta. Foram dez ao todo -- cinco para Lula (um negado), quatro para Bolsonaro (dois negados) e um para Soraya (negado). Antes mesmo que boa parte dos candidatos pudesse falar, Lula e Bolsonaro se intercalaram em três consecutivos. Durante as perguntas, destaque para as dobradinhas de Ciro e Felipe D'Ávila e de Bolsonaro e Padre Kelmon com ataques ao PT. O atual chefe do Executivo chegou a levantar o caso Celso Daniel para discussão, mas acabou sendo rebatido por Tebet.


Também chamou atenção na primeira parte o embate entre Soraya Thronicke e Padre Kelmon. Já no começo, a candidata do União Brasil teve dificuldades para falar o nome do oponente -- chamado inicialmente de Padre Kelson, Padre Kelvin e, por fim, de candidato padre. Depois, questionou a quantas pessoas ele deu a extrema unção (a bênção dada aos cristãos no momento da morte) durante a pandemia. Em resposta, o representante do PTB acusou os oponentes de estarem mentindo. Na réplica, Soraya o chamou de cabo eleitoral de Bolsonaro -- sendo interrompida durante a fala -- e questionou se ele não tinha medo de ir para o inferno. O padre, por sua vez, perguntou se "só se morre de covid nesse país" e disse que não tem medo de ir para o inferno porque "vive o Evangelho, coisa que a senhora não sabe o que é, porque se soubesse com certeza não estaria desrespeitando um padre e mandando um padre para o inferno".


2º bloco


No segundo bloco, o formato de perguntas entre os candidatos, com temas pré-determinados em sorteio feito pelo apresentador, engessou o confronto direto entre os principais adversários e esfriou o climão do primeiro bloco. Na pergunta que abriu feita por Felipe D'Avila para Lula, ele questionou a corrupção nos governos do PT e qual seria sua relação com desvios de bilhões de reais. O petista afirmou que o adversário citava dados sem fonte e que não tinha experiência e que gente como ele, que prometia "entrar para a política e salvar o país", "nunca deram certo".


Os temas sorteados para respostas perguntas e respostas entre os candidatos foram: leis de cotas, mudanças climáticas, relação com Congresso, meio ambiente, educação e emprego. O presidente Bolsonaro, nos temas mudanças climáticas e meio ambiente, foi alvo de ataques. Questionado pela candidata Simone Tebet (MDB), que prometeu revogar decretos que enfraqueceram órgãos de controle ambiental, o presidente negou ser inimigo da floresta e classificou os ataques à uma "briga de narrativas". Nesse tema, Lula aproveitou para alfinetar seu arquirrival, disse que iria proibir qualquer tipo de garimpo ilegal.

 

Um sintoma aparente do clima mais amistoso do segundo bloco foi o número de pedidos de direito de resposta: apenas um foi concedido, para o candidato Padre Kelmon para rebater a fala da candidata Soraya Thronicke, que questionou seu sacerdócio. "Não deu extrema unção porque o senhor é um padre de festa junina." Padre Kelmon respondeu que a adversária "desconhece o valor de um sacerdote" e voltou a acusar de usar "falácias" e "mentiras".


3º bloco


Novamente com tema livre, o terceiro bloco foi mais propositivo, com discussões sobre economia, cultura e educação. Primeiro a perguntar, Bolsonaro recorreu a D'Ávila, evitando um confronto direto com Lula. Os dois fizeram uma dobradinha sobre liberalismo econômico, com críticas à esquerda e com o presidente prometendo uma reforma fiscal se reeleito. O tema da corrupção também teve espaço, com Tebet respondendo ao candidato do Novo que houve corrupção nos governos petistas com "conivência de alguns membros" de seu partido, o MDB -- que compunha a base de Lula e Dilma até o impeachment, em 2016. Ciro acusou Bolsonaro de escândalos e de vendas ligadas de ativos da Petrobras por valores incompatíveis com os de mercado e citou o orçamento secreto. Em resposta, o candidato do PL disse que o caso é de responsabilidade do Congresso e que ele não tem "qualquer ascendência sobre esse tal orçamento secreto".


O momento mais marcante, contudo, foi o bate-boca entre Padre Kelmon e Lula. O candidato do PTB disse que o ex-presidente era chefe de um esquema de corrupção. Em resposta, o petista chamou o oponente de "candidato laranja" e disse ter obtido 26 vitórias na Justiça. "Quando quiser falar de corrupção, olhe para outro e não para mim", afirmou. Na réplica, Padre Kelmon disse que Lula era um "descondenado" que não deveria estar disputando a Presidência. O ex-presidente, então, questionou: "O senhor é padre ou está fantasiado?". Iniciou-se, então, uma troca de ofensas à qual o mediador teve dificuldades para conseguir conter. Bonner, aliás, exaltou-se com a quantidade de interrupções de Kelmon e chegou a perguntar se ele havia instituído uma nova regra para o debate.


4º bloco


No quarto bloco, Bolsonaro subiu o tom com a candidata Soraya Thronicke, ao ser questionado sobre a possibilidade de um "golpe de Estado" caso ele perdesse as eleições. "A senhora seria muito dócil comigo por exemplo se eu tivesse atendido a senhora em todos os cargos que a senhora pediu para mim, por ofício assinado? Aqui (...) Como a senhora não conseguiu, basicamente a senhora virou uma inimiga nossa." A candidata ainda voltou a tratar do assunto ao responder a uma pergunta de Ciro, sobre outro tema. "Os três cargos atendidos, eles não aceitaram 'rachadinha'?", afirmou. "Não sou candidata laranja, me respeite." Bolsonaro pediu direito de resposta e usou o espaço para pedir voto para o candidato ao governo do Mato Grosso do Sul, Capitão Contar (PRTB), estado da candidata Soraya Thronicke. O presidente, no entanto, não respondeu se aceitaria ou não o resultado das urnas.


Com tema definido, o bloco foi mais propositivo do que de embates. Lula fugiu de responder a pergunta da candidata Simone Tebet sobre privatizações no governo - tema caro ao PT. Já a candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, acusou Bolsonaro de deixar de cumprir a promessa de privatizar mais. "O maior cabo eleitoral do PT e de Luiz Inácio Lula da Silva se chama Jair Bolsonaro", disse ela. Ciro Gomes também abordou o tema, com críticas à atual política do governo. Foram tratados ainda dos temas segurança pública, gastos públicos, política cultural, habitação, saúde e agricultura.  


Considerações finais


Nas considerações finais, D'Ávila e Ciro falaram de polarização. O primeiro disse que "um país dividido não cresce", enquanto o segundo afirmou querer ser "o candidato que vai reconciliar o Brasil". Padre Kelmon dirigiu-se a religiosos, disse ter sido tratado com ódio e repetiu slogan de Bolsonaro -- "Deus, patria, família, vida e liberdade". Soraya falou sobre a fome e afirmou: "Não adianta candidatos falarem e dizerem números que não existem e a gente ver outra realidade nas ruas". Tebet falou em governar com o coração e retomou o tema polarização, dizendo que "esta briga, este ódio não têm fim". Lula exaltou feitos de seus governos e se colocou como "aquele que soube resolver a situação do Brasil". Por fim, Bolsonaro destacou o Auxílio Brasil e o preço da gasolina, disse que seu governo não tem casos de corrupção e defendeu pautas de costume.


SBT News

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