Em reunião tensa e votação apertadíssima, o diretório estadual do PT no Ceará decidiu expulsar o vereador Ronivaldo Maia, acusado de tentativa de feminicídio no fim de novembro do ano passado. O placar foi de 27 votos pela expulsão e 26 por uma punição alternativa, de suspensão. O desempate coube ao voto de Minerva do presidente estadual, Antônio Filho, o Conin. O vereador pode recorrer ao diretório nacional, no prazo de dez dias.
O relatório do Conselho de Ética da legenda indicou a expulsão. Porém, houve uma proposta alternativa. Próximo à deputada federal Luizianne Lins, Raimundo Ângelo, o Raimundinho, apresentou proposta de substituir a expulsão por uma suspensão válida até 31 de dezembro de 2024, após a próxima eleição municipal.
O parlamentar, por usar tornozeleira eletrônica, retirou-se antes das 20 horas. Ele não deu declarações.
A reunião foi bastante tensa, com falas exaltadas. As mulheres presentes se retiraram da sala em protesto. Secretária de Mulheres do PT e integrante do diretório estadual, Fátima Bandeira havia se posicionado antes pela expulsão. "O Coletivo Estadual de Mulheres tem posição definida de que não é possível a convivência com o PT de um agressor. Nossa posição, como coletivo estadual, é pela expulsão".
Fátima ressaltou que a permanência de Ronivaldo não é compatível com a trajetória da legenda. "O PT tem toda uma história de luta contra a violência. Como é que pode abrigar em seus quadros um agressor confesso? Para nós fica muito difícil aceitar que a trajetória do nosso partido seja manchada com essa permanência."
Entenda o caso Ronivaldo
Ronivaldo foi preso em 29 de novembro de 2021, acusado de avançar com o veículo contra uma mulher. Ele ficou preso até o início de fevereiro. Denunciado no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar, ele teve o processo arquivado.
O retorno à Câmara, no entanto, foi cercado de polêmicas. O Núcleo Américo Barreira, do PT Fortaleza, grupo de militantes do partido na capital, lançou nota pública com duras críticas ao retorno do vereador. O grupo também manifestou repúdio ao arquivamento do processo contra o petista que tramitava na Casa.
No primeiro pronunciamento ao retornar, o parlamentar pediu desculpas e disse que não quis matar a mulher que foi vítima de agressão. Disse ainda que episódio foi "infortúnio" e isolado na sua trajetória. "Todo ser humano pode ter um momento de descontrole emocional do qual se arrependerá para sempre, mas nunca tive a intenção de machucá-la". Ele foi rebatido pela vereadora Adriana Gerônimo (Psol), do mandato coletivo Nossa Cara. Segundo a psolista, a fala do parlamentar reproduziu as desculpas comumente dadas por agressores de mulheres. "O que o Ronivaldo reproduziu, infelizmente, são as desculpas dos agressores de mulheres. Eles sempre se utilizam dessa desculpa de que houve um momento de descontrole, que a vítima causou o ato, o crime, de violência contra ela mesma", afirmou.
Junto das outras vereadoras do mandato coletivo, Adriana buscou assinaturas contra o arquivamento da representação contra Ronivaldo no Conselho de Ética. Eram necessárias nove assinaturas dentre 43 vereadores para o recurso ir a plenário, mas só quatro assinaram. Ao O POVO, a vereadora Enfermeira Ana Paula (PDT) disse que seu partido fechou entendimento para que os parlamentares da sigla não assinassem o recurso do Psol.
Com informações do repórter Henrique Araújo
foto: Thais Mesquita
O Povo