Representantes da Polícia Federal afirmaram publicamente que os resultados preliminares da Operação Spoofing, deflagrada nesta terça-feira, 23, para apurar invasão a celulares do ministro da Justiça, Sergio Moro, e outras autoridades no País, reforçam os indícios de que os quatro suspeitos presos foram responsáveis pelo ataques virtuais. Ainda segundo os investigadores, o mesmo grupo foi responsável pelo ataque de cerca de 1.000 contas, incluindo de autoridades como o ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Resultados preliminares da investigação dão conta de que a conclusão da perícia estava adequada. A conclusão deve ser encaminhada ainda esta semana, amanhã ou depois (aos investigadores). Lá estão relatados a forma de operação entre outros detalhes", disse o coordenador geral de Inteligência da PF, o delegado federal João Vianey Xavier Filho, em um pronunciamento à imprensa, sem permissão para perguntas.
Segundo a PF, uma quadrilha de Araraquara, no interior de São Paulo, usou celulares e computadores de alta tecnologia para acessar contas de aplicativos de conversas. Os quatro presos temporários na terça-feira e transferidos para Brasília são Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila Oliveira e Danilo Cristiano Marques. Foram utilizados 40 policiais federais na operação.
"Havia a captura sistemática de contas de aplicativos de mensagem e como prática o investigado fazia toda a burla necessária à captura da sessão da vítima", disse o coordenador de Inteligência da PF.
Chamou a atenção dos investigadores que um dos computadores apreendidos reunia, na área de trabalho, atalhos para a conexão com diversas contas de aplicativos de mensagens.
"Aproximadamente 1.000 números telefônicos alvo deste modus operandi", disse Vianey. Segundo ele, ainda não foram identificadas todas as pessoas que tiveram celulares atacados.
Segundo Luiz Spricigo Jr., diretor do Instituto Nacional de Criminalística, um fato que confirma as percepções preliminares da PF é que foram encontrados equipamentos compatíveis com os dados identificados na apuração inicial. Um dos celulares tinha a marca e modelo semelhante ao identificado no rastreamento pela internet, segundo Spricigo.
A apuração começou depois que procuradores da Lava Jato notaram em abril suspeitas de que seus celulares foram invadidos. O objeto principal do inquérito era a invasão do celular do ministro Sergio Moro.
Coaf
Relatório de Informação Financeira, da Polícia Federal, aponta que o casal - Gustavo Henrique Elias Santos e sua mulher Suellen Priscila de Oliveira - movimentou R$ 627 mil no período de abril a junho de 2018, no caso de Gustavo, e nos meses de março e maio de 2019, no caso de Suellen. Presos na Operação Spoofing por suspeita de hackear o celular do ministro Moro, de delegados da PF e de juízes, os investigados tinham, segundo a investigação, renda mensal de R$ 5.058, o que seria incompatível com a verba movimentada.
Os R$ 100 mil localizados na casa de Gustavo Henrique, segundo a PF, já foram depositados em juízo. O bloqueio de verbas foi feito por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, que autorizou a operação.
Sobre o compartilhamento de dados do Coaf, por meio de Relatório de Inteligência Financeira (RIF), João Vianey afirmou que não foram descumpridas as limitações impostas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Decisão do ministro na semana passada proíbe troca de informações bancárias e fiscais sem autorização judicial.
"O relatório, já observando as restrições impostas pelo STF, demonstra haver entre eles movimentações suspeitas e não justificadas, o que vai ser objeto de aprofundamento e constatação", disse Vianey.
(Agência Estado)