O pedido de demissão ao vivo do jornalista Kaio Cézar, durante o encerramento do Globo Esporte, da TV Verdes Mares, afiliada da Globo no Ceará, neste sábado (16/02), é um dos capítulos mais cruéis da crise gerada pelo processo de integração das redações dos veículos pertencentes ao Sistema Verdes Mares...
A unificação das redações da TV Verdes Mares, do G1 CE, da TV Diário, do Diário do Nordeste e da Rádio Verdes Mares, além de ter colocado nas ruas mais de 30 jornalistas e radialistas nos últimos meses, gerou uma série de irregularidades trabalhistas, como jornada de trabalho extenuante, acúmulo de tarefas, desvio de funções e assédios.
Segundo relato de colegas, também funcionários do SVM, o estopim para o ato de Kaio foi o fato de estar há um mês sem folgas, além de produzindo, redigindo, editando e ancorando quadros e programas. O profissional, inclusive, foi um dos demitidos da rádio Verdes Mares AM, no último passaralho registrado. Ou seja, Kaio Cézar passou a ter um único salário, enquanto continuava a trabalhar para a rádio, mesmo sendo remunerado somente pela TV.
Não foi à toa que, hoje, o trabalhador se despediu com o texto: “Bom, pessoal, Globo Esporte ficando por aqui. Quero dizer que eu também fico. Porque neste momento estou pedindo demissão do Sistema Verdes Mares. Não abro mão do respeito, nem da dignidade para estar em lugar nenhum”, anunciou no encerramento do Globo Esporte.
A realidade enfrentada pelo jornalista é, infelizmente, comum a quase todos os funcionários. Desde que uma consultoria milionária conduziu o desastroso processo de modificação das redações, os únicos resultados são o aumento da precarização, das pressões e dos adoecimentos. Há informações inclusive do uso desenfreamento de medicamentos contra ansiedade e antidepressivos.
Quem ainda está no SVM diz: “O Sistema mudou desde a integração, não tem pagado horas extras a ninguém, muita gente acumulando funções, fazendo o serviço de dois ou três trabalhadores que foram desligados”. Outra pessoa narrou: “o pessoal trabalha que nem escravo”.
Todo este universo de problemas vem sendo acompanhado pelo Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), que, desde o primeiro movimento das empresas, das demissões à instalação das novas rotinas, cobrou mediação com a direção do SVM, que foi negada, o que levou à produção de denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
O procedimento no MPT é acompanhado pelo procurador chefe do órgão, Francisco José Parente Vasconcelos Júnior, que requisitou uma série de documentos, como contracheques, aditivos de contratos de trabalho e comprovantes de controle de jornada de 50% dos jornalistas empregados nos veículos.
Infelizmente, a tradição dos donos do SVM é de opressão e de intransigência, comprovados não só pela situação vexatória atual. A organização impede o acesso do Sindjorce à redação há pelo menos 4 anos e também realizou, por quase duas décadas, a contratação irregular de jornalistas como radialistas pela TV Verdes Mares, TV Diário e Verdinha, que só está sendo corrigida agora, após condenações judiciais que já renderam mais de R$ 2,6 milhões em indenizações.
(Sindjorce)