Em Fortaleza, ontem, o ex-ministro da Casa Civil do Governo Lula José Dirceu, que deixou a prisão no último mês de junho após permanecer
detido por um mês em Brasília, negou ter ingerência sobre decisões estratégicas do PT, partido que ajudou a fundar, mas reconheceu ser voz
influente
entre correligionários.
Em entrevista coletiva, ele também disse que não temeria a instalação de uma "comissão da verdade" na
legenda, embora tenha armado
que condenações contra lideranças petistas são politizadas, em um "processo de criminalização do PT e do
Lula".
"Não vou dizer para você, sem falsa modéstia, que minha opinião e minhas análises não contam, que não tenho liderança no PT, isso é outra
questão. Mas eu não exerço nenhum papel, nem quero exercer. Esse papel eu já fiz
há 30 anos", disse, ao ser questionado sobre participação
nas decisões estratégicas do partido, durante coletiva de lançamento do livro "Zé Dirceu Memórias - Volume 1", escrito por ele desde a série
de prisões iniciada em novembro de 2013.
O evento aconteceu na sede do PT Ceará, no bairro Benca.
Respondendo em liberdade por 41 anos e um mês de prisão em processos relativos ao Mensalão e à Operação Lava-Jato, nos quais foi condenado por corrupção ativa, passiva, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro, Dirceu falou sobre a alegada falta de
autocrítica do partido, apontada, inclusive, por um dos defensores da liberdade do ex-presidente Lula no cenário internacional.
Em entrevista recente, o lósofo
americano Noam Chomsky, referência da esquerda, armou
que o PT precisa de uma "comissão da
verdade" para discutir internamente oportunidades perdidas e erros. "Pode-se fazer uma comissão da verdade, eu não temeria. Porque o que
é público, a sociedade já sabe. Que nós participamos de corrupção, que enriquecemos, isso não é fato", afirmou
Dirceu.
Críticas recentes direcionadas ao PT vêm de reaproximações estaduais da sigla com partidos que autorizaram, em 2016, o impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff, sobretudo o MDB.
Para Dirceu, as alianças neste pleito decorrem da dificuldade
de governar sem apoio no
sistema político-partidário brasileiro. Ele minimizou impacto dos acordos na credibilidade da sigla.
"No caso específico
de Alagoas, o Renan (Calheiros) há muito tempo já tinha se afastado do governo Temer, já não tinha votado as
mudanças. O próprio PSB, depois do impeachment, passou a votar contra as medidas do governo.
Estamos fazendo os acordos sem mudar
nosso programa", argumentou.
Perguntado sobre o que o PT deveria fazer de diferente em eventual novo mandato, Dirceu foi categórico: "Depende do Congresso e da
sociedade. Se tiver apoio da sociedade, é fazer reforma política". Mesmo com a crescente polarização do quadro político brasileiro, o ex-
ministro
acredita na governabilidade de uma gestão petista. "O presidente do Supremo já disse que quem vencer a eleição, toma posse. Isso
é o que a Constituição manda. Se quiserem rasgá-la de novo, assumam as responsabilidades. Nós vamos resistir. Eu não acredito que vá
acontecer".