Presidenciável Ciro Gomes. Foto: Fábio Lima/O POVO |
A fala do candidato à presidência da República, Ciro Gomes
(PDT), sobre eventual soltura do ex-presidente Lula, repercute negativamente no
meio jurídico. À TV Difusora, no programa Resenha, no último dia 16, o
ex-governador do Ceará disse que o petista só tem perspectiva de liberdade se
"a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para
a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e
restaurar a autoridade do poder político".
Em entrevista ao O POVO Online, o presidente da Associação
Cearense do Ministério Público (ACMP), Lucas Azevedo, disse que o comentário do
ex-ministro da Integração Nacional atenta contra o estado democrático de
direito, além de tentar enfraquecer uma instituição que "tenta defender a
sociedade". Ele classificou a atitude como inaceitável para um candidato.
Azevedo diz ainda que um presidente da República, seja ele
qual for, não pode interferir no Poder Judiciário. Especificamente sobre o
Ministério Público, o presidente da associação diz que é uma instituição que se
notabilizou nos últimos anos pelo combate à corrupção. "Mas o que pra nós
é muito claro é que ele quer sim enfraquecer a instituição, senão não falaria
algo assim", pontua.
O POVO Online também ouviu posicionamento da Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp). Em nota, o presidente da
instituição, Victor Hugo Palmeiro de Azevedo Neto, diz que, “como
presidenciável, não poderia adotar postura flagrantemente transgressora da
ordem jurídica e que retira da sociedade a fé de que a lei deve ser igual para
todos". Para o titular da Conamp, o comentário fere a Constituição
Federal, que deu autonomia e independência ao Ministério Público.
"As declarações de Ciro Gomes assumem o protagonismo na
tentativa de enfraquecer a atuação do Ministério Público, quando o
pré-candidato deveria se concentrar em fortalecer uma das mais relevantes
instituições do País", diz a nota.
Procurada, a presidência do Tribunal de Justiça do Ceará
(TJCE) não quis se manifestar sobre o assunto. O mesmo aconteceu com a
Associação Cearense de Magistrados.
Ciro se defende
Em sua defesa, conforme noticiado pela versão impressa do O
POVO desta quinta-feira, 26, Ciro diz que a frase foi propositalmente retirada
de contexto para ocasionar mal-entendido.
Por "a gente assumir o poder", ele fala que se
referiu aos democratas em geral, para além da própria legenda.
A reportagem entrou
novamente em contato com a assessoria de Ciro Gomes na noite desta
quinta-feira, 26. A assessoria do político informou ao O POVO Online que ele já
explicou o assunto.
(O Povo)