Deijair de Souza Silva, 29, homem que a inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) aponta como um dos mandantes da Chacina das Cajazeiras, é também personagem de uma investigação da Polícia Federal e de um processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O traficante é parte importante do enredo da Operação Expresso 150, que investiga a suposta venda de liminares em alguns plantões do Tribunal de Justiça do Ceará.
Bedeca — como Deijair é conhecido no mundo do crime e entre os comparsas da facção Guardiões do Estado (GDE) — teria pago R$ 150 mil, segundo a Polícia Federal, para comprar um habeas corpus no plantão do desembargador Carlos Feitosa.
A liminar, segundo levantou a equipe de Wellington Santiago, ex-delegado Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado no Ceará (hoje em Brasília), teria sido emitida em 7/7/2013.
A decisão judicial beneficiou Deijair de Souza e os também traficantes Tiago Costa de Araújo e Carlos Hélder Flanklin Marques. Os três foram soltos e sumiram do radar das autoridades da segurança do Ceará.
Não era para menos. O trio havia sido flagrado pela Polícia Federal em abril de 2013 com 101,7 quilos de pasta base de cocaína, pistolas e uma máquina de contar dinheiro. Integrante do mesmo grupo, o receptador José Roberlano Nobre também foi beneficiado pela ordem de soltura do desembargador.
Cinco anos depois de sair pela porta da frente da Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL 1), em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, Deijair foi preso sob acusação de ordenar o covarde atentado contra quem se divertia no Forró do Gago, no bairro das Cajazeiras.
Na madrugada de 27/2, segundo investigações dos policiais da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), os comparsas de Deijair chegaram atirando a ermo no forró. Mataram 14 pessoas e feriram outras. O traficante foi apontado como um dos mandantes por outros bandidos da GDE que teriam participado da maior chacina do Ceará.
Deijair ou Bedeca (e não De Deus, como divulgado pela SSPDS) foi preso em um apartamento no bairro do Cocó. No imóvel do suspeito, foi encontrado uma pistola calibre 45, dois carregadores municiados e uma caixa de munição com 76 cartuchos. Também foram apreendidos dois carros e recolhido um recibo bancário de um depósito de R$ 130 mil.
Além do suposto mandante da Chacina das Cajazeiras, a Polícia prendeu Ana Karine Silva Aquino ou Nega do Pezão,23, Ayalla Duarte Cavalcante (Zoião), Renan Gabriel da Silva (Biel) e mais seis suspeitos (Colaborou Cláudio Ribeiro). O desembargador Carlos Feitosa, afastado por ordem do STJ, nega a corrupção.
EXPRESSO 150
Desde 2015, a operação Expresso 150 já teve cinco desembargadores citados por suposta venda de liminares: Paulo Timbó e Váldsen Pereira (aposentados), Sérgia Miranda e Carlos Feitosa (afastados) e Francisco Pedrosa (punido com suspensão de dois anos)
(Demitri Tulio - O Povo)