Após dois anos seguidos de recessão, crise se tornou vocábulo comum para os brasileiros. Apesar da retração geral, capaz de levar estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais a decretarem calamidade financeira, a economia do País dá sinais de melhora em 2017. Apesar de representar um alívio, o cenário continua a exigir cautela, principalmente por causa das incertezas no âmbito político nacional e mundial. É o que projetam especialistas consultados pelo O POVO.
A inflação em desaceleração é um dos respiros para o consumidor neste ano. “Isso nos dá certo alento”, endossa o economista e consultor empresarial José Maria Porto. A análise se baseia no Boletim Focus, divulgado no último dia 2 pelo Banco Central (BC), que aponta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, fechará 2017 em 4,87%. Enquanto a de 2016, cujo resultado será divulgado nesta semana, deve ficar em 6,40%. Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também aponta para inflação de 4,8% em 2017.
O ano deve ser de crescimento econômico. O resultado esperado é modesto, mas já melhor que duas quedas consecutivas no Produto Interno Bruto (PIB), que teve baixa de 3,8% em 2015 e no qual se espera redução de 3,49% em 2016. Para 2017, a expectativa do Boletim Focus é de alta de 0,5%.Já a Febraban espera alta de 0,7%.
Com inflação mais baixa, os juros também devem pesar menos no bolso do consumidor. A taxa básica, Selic, apontada pelo Boletim
Focus é de 10,25% no final de 2017. Hoje, ela está em 13,75%.
“Uma taxa de juros declinante é importantíssima para uma economia em recessão porque diminui o custo de capital das empresas, favorecendo novos investimentos. Não tinha condição de se investir como a Selic estava”, enfatiza o especialista.
Para Porto, as previsões são auspiciosas. Mas ele alerta que a “nuvem negra” da crise só será dissipada se houver “rigidez” contínua na aplicação de todos os ajustes fiscais sugeridos e/ou já implementados pelos Governos Federal e Estaduais, como a criação de um teto para os gastos públicos.
O economista Lima Matos diz que as medidas de ajuste permitem vislumbrar o ano com mais otimismo. Entretanto, também pondera que podem surgir abalos, principalmente no âmbito político. “O Brasil está entrando em uma onda boa, os gestores estão tratando com mais seriedade a coisa pública, mas claro que há dúvidas.
Temos um presidente de uma chapa torta”, diz se referindo à possibilidade de cassação da chapa Dilma-Temer, o que levaria a uma nova troca de governo.
Retomada lenta
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), além de tímida, a retomada da economia no Brasil deverá ser lenta. A instituição também estima crescimento do PIB em 0,5%. O desempenho da indústria, conforme o estudo, deve ser melhor, com alta de 1,3% no PIB Industrial, depois de três anos seguidos de queda. A entidade espera desemprego médio de 12,4%, maior que a taxa atual, que é de 11,9%. No setor público, 2017 também será de aperto, com aumento no déficit público chegando 9,5% do PIB em 2017, ante os 9,35% de 2016.
Para o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, o País só voltará a crescer com maior vigor em 2018. Logo, não há perspectivas de retomada da produção no curto prazo porque o desemprego provoca queda no consumo
e na confiança.
Efeito Trump
No próximo dia 20, o republicano Donald Trump vai assumir a presidência dos Estados Unidos. Com posição protecionista, ele deve restringir importações, o que pode agravar a situação brasileira. Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Angola, Roberto Marinho acredita que a imprevisibilidade de Trump traz um clima instável ao Brasil.
Mas o País também pode aproveitar o momento para se preparar e “ocupar alguns espaços”, considerando “a pequena visão” que o novo presidente deve dar à América do Sul. “A gente tem uma boa chance de ocupar esse espaço, desde que as medidas de simplificação do mercado internacional não fiquem só em discurso, aliadas às medidas de credito internacional e desburocratização do processo e melhoria logística”, diz Marinho.
José Maria Porto cita ainda a volatilidade da taxa de câmbio, diante do momento político e econômico conturbado, nos âmbitos interno e externo. “Por ser extremamente especulativo, o dólar deve sofrer muito neste 1º semestre pelo ânimo do mercado, fugindo da essência do equilíbrio de preço, que é o fluxo de entrada e saída”.
PIB do Ceará
2017 pode marcar a retomada de crescimento da economia nacional e, principalmente, a do Ceará. É o que avalia o coordenador de Contas Regionais do Ipece, Nicolino Trompieri Neto. Entretanto, alerta que para que isso ocorra, as políticas de aumento de crédito propostas pelo Governo Federal deverão se mostrar eficientes.
“Essas políticas tornando-se eficazes, somadas à convergência do
IPCA para valores próximos da meta de 4,5%, irão favorecer o aumento de investimento das empresas, implicando na geração de novos postos de trabalho e aumento do consumo”, explica, destacando que o comércio, setor relevante na economia cearense, seria positivamente impactado.
Panorama Industrial da Federação das Indústrias (Fiec) aponta crescimento em torno de 1% no PIB do Ceará em 2017. Conforme o estudo, o Estado se sobressai por influência do crescimento do setor de energias renováveis e das exportações agroindustriais.
Mas há uma incógnita a mais em nível local, a climática. Uma boa quadra chuvosa e a transposição de águas do Rio São Francisco podem levar o Estado a atingir situação financeira confortável mais rapidamente. “Ocorrendo isso (chuvas e transposição), o setor agropecuário será beneficiado, consolidando a retomada do crescimento do PIB do Ceará em 2017”, considera Trompieri.
Mês a mês
Para Severino Ramalho Neto, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL), a perspectiva é de um ano bom, mas de muitas incertezas. “A política tem influenciado muito. Não dá pra fazer um planejamento de longo prazo; tudo precisa ser acompanhado mês a mês”.
Ele afirma, ainda, que o setor tem uma adversidade a mais para enfrentar, o número de feriados, que representarão prejuízo de R$ 10,5 bilhões para o comércio em todo o País conforme a Federação do Comércio de São Paulo. Segundo Severino, as grandes empresas conseguem lidar com os custos e lucrar com a chegada de turistas em Fortaleza.
Mas a situação é diferente para os pequenos.
PIB NACIONAL
Febraban: 0,7%
Boletim Focus (BC): 0,50%
CNI: 0,50%
PIB do Ceará
Panorama Fiec: 1% (Ceará)
PIB INDUSTRIAL NACIONAL
Febraban: 1,0%
CNI: 1,3%
INFLAÇÃO MÉDIA NACIONAL
Boletim Focus (BC): 4,87%
Febraban: 4,8%
CNI: 5,0%
TAXA BÁSICA DE JUROS
Boletim Focus (BC): - 10,25% ao ano
CNI: 10,75%
DESEMPREGO NO BRASIL
CNI: 12,40%
(O Povo Online)