Nos bastidores, parlamentares apostam que uma eventual delação de Eduardo Cunha poderá prejudicar mais de uma centena de deputados que ele ajudou durante sua ascensão de líder do PMDB a presidente da Casa. "Ele é um arquivo vivo", afirmou o líder do PR, Aelton de Freitas (MG).
Nos últimos cinco anos, o deputado cassado esteve em cargos de poder que lhe permitiram influenciar em escolhas de relatores de projetos e medidas provisórias estratégicas, além de CPIs.
Segundo aliados e adversários, ele tem na memória informações sobre negociações feitas para a aprovação de propostas na Casa. Além disso, participou ativamente da articulação para a abertura do processo de impeachment.
Cunha se filiou ao PMDB em 2006 e, naquele ano, foi eleito para seu segundo mandato de deputado federal, quando aproximou-se do então líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), a quem sucedeu.
Isso permitiu que ele se tornasse figura frequente na residência oficial da Câmara, quando Michel Temer presidiu a Casa, e, depois, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.
Os peemedebistas costumam repetir que Cunha não é amigo de Temer, mas não negam que, nos últimos anos, ele frequentou rodas de conversa importantes dos caciques da legenda. Outro aspecto que causa temor é o fato de Cunha ter atuado ativamente na arrecadação de recursos para campanhas de vários aliados, não só do PMDB, mas de partidos como PSC e PP. Ele próprio já admitiu que ajudava nos contatos com empresas para conseguir doações oficiais para o PMDB. Tudo isso na época em que Temer presidia a legenda.
"Cunha é temido porque é muito inteligente e correto em cumprir a palavra empenhada. Os que não têm coragem de falar a verdade que esperem", disse o deputado Wellington Roberto (PR-PB), um dos dez que votou contra a cassação de Cunha.
"Se ele tinha os esquemas que estão sendo demonstrados nas investigações, são coisas mais antigas. Quem foi parceiro dele nisso deve realmente temer. Mas acredito que era um clube dos sete anões. Onde tem mina de ouro alguém fica contando para todo mundo?", perguntou o deputado tucano Luiz Carlos Hauly, dizendo não acreditar que uma eventual delação possa respingar no presidente Michel Temer.
(O Globo)