quinta-feira, 9 de junho de 2016

Lava Jato - Há um sócio fundador

Com o título “Sócio-fundador”, o jornalista Fábio Campos analisa, em seu espaço no O POVO desta quinta-feira, o caso do pedido de prisão de Sarney, Romero Jucá e Renan feito pela Procuradoria Geral da República e as expectativas que se voltam para o Supremo. Confira:

"Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, pediu a prisão de José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha. Os quatro são do PMDB. Deveria ter sido uma hecatombe na política. Não foi. Bom, a bola, mais uma vez, está com o Supremo Tribunal Federal, que se manteve em silêncio. O pedido de prisão vazou, mas suas justificativas continuam desconhecidas. A esperar por alguma manifestação da nossa Suprema Corte.
No Congresso, até a nova oposição, formada pelos partidos de esquerda, se posicionou de forma extremamente cautelosa quanto aos pedidos de prisão. É compreensível. Afinal, se o fundamento dos pedidos forem gravações machadianas já conhecidas, outros personagens podem ser enquadrados na mesma motivação (falas para barrar a Lava Jato).
As gravações de Aloízio Mercadante e Lula estão aí, disponíveis. Há nelas inequívocos trechos de manifestações de vontade de criar barreiras contra a Lava Jato. O fato é que uma onda de prisões não é boa notícia para os dois partidos (PT e PMDB) que foram os sócios majoritários no esquema de corrupção montado na Petrobras.
Nesse sentido, a história da Lava Jato ainda terá que ser muito bem contada. Certamente não vai faltar escritor para isso. Há muitos jornalistas já se documentando para lançar biografias contando os detalhas e as entranhas da operação policial e jurídica que já é parte da História do Brasil. Não vai faltar matéria-prima e nem personagens. Mocinhos e bandidos.
Como nasceu a Lava Jato? Pois é! É a pergunta que não vai calar. A resposta talvez seja mais complexa do que se espera. Há uma pista a respeita. Numa conferência nos EUA, o procurador Rodrigo Janot deu uma pista: “Não existiu um Mensalão e não existiu uma Lava Jato, mas sim toda uma operação conjugada, onde o mensalão foi uma parte do iceberg do que depois veio a ser descoberto”.
Trocando em miúdos, tratava-se de um método continuado. Um modo de agir. Um pensamento de governo. Tudo fez parte de um projeto de poder. Em vez de um governo de coalizão, fez-se um governo de cooptação. Em vez da política para manter a base, estabeleceu-se uma sociedade no esquema de propina. Portanto, o PMDB e os PPs da vida eram os culpados utilíssimos para formar a profícua parceria.
É sempre necessário colocar uma questão para entender o enredo por inteiro: de que forma um personagem como o deputado Eduardo Cunha (já tinha ficha corrida em 2007, quando operou pela primeira vez na estatal) exerceu tanta influência em grandes negócios da Petrobras? Ora, foi um poder concedido. Cunha recebeu aval político para agir e, claro, não se fez de rogado.
Por qual motivo Fernando Collor, um só senador, sem votos no Senado além do próprio, ganhou de presente o poder de mandar e desmandar na poderosa e milionária BR Distribuidora, gigante estatal que distribui combustíveis? Só há uma explicação: o homem é um profissional. Para os fins necessários, seu currículo era impecável. Certo?
Assaltos a cofres públicos na dimensão em que a coisa se deu não ocorrem sem que o comando do poder assim o queira. Havia um comando. Havia um sócio-fundador do esquema".
(Fábio Campos via Blog do Eliomar)

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