Boa Tarde para Você, Vanderlúcio Lopes Pereira
A primeira coisa que desejo dizer-lhe, Vandinho Pereira, é que neste ano
que estamos encerrando, frequentemente eu estive à frente da televisão para
vê-lo conduzir, e com tal entusiasmo, o Ceará Diverso, e estas foram
oportunidades de grande enlevo, a partir das quais me tornei seu admirador.
Pouquíssima coisa desta nossa televisão, e lamentavelmente da produção
local, se assemelha em cuidados e conteúdos como o programa que você vem
apresentando na Tv Verde Vale, há pelo menos sete anos.
Isto necessita ser bem visto e assistido, pois não há como esconder que
vivemos numa região de grandes predicados culturais e populares, algo que está
permanentemente exigindo apoio e oportunidade de divulgação para fortalecê-los
como legítimas e valiosas manifestações artísticas.
O que mais me chama a atenção, Vandinho, é o modo como a partir da
cantoria, especialmente, você tem feito uma grande animação cultural pela mídia
televisiva, talvez a mais importante que ora se realize cotidianamente, dada a
frequência de como ela acontece através do programa e de outras atividades como
festivais de cantadores e noites de violas.
Há na sua agitação, uma riqueza que se espalha pelos mais diversos
ambientes, itinerante por tantas comunidades e centros culturais, para realizar
programações que contemplam lançamentos de cordéis, CDs e DVDs, livros e
apresentações de um sem número de cantadores e mestres desta cultura popular.
Mas é isto mesmo, Vandinho, pois a cultura que você nos apresenta nesta
diversidade de Ceará, que é um ótimo espelho de Nordeste e de Brasil, é a
consequência inevitável da mais ampla interação entre o povo e o seu ambiente,
e que se manifesta por crenças, pela arte, pela linguagem, pelos hábitos, pelas
tradições, pelo folclore, pelo artesanato e por seus costumes.
O seu programa é rico nesta diversidade, desde a boca de cena que o
ambienta e segue pelo roteiro no qual se inserem personagens, artistas e
circunstâncias da mais expressiva riqueza cultural de nossa gente.
Assisti-lo, pelo menos para mim, é experimentar um sensação gratificante
que nos coloca ao lado de um gênero que ainda padece de largo preconceito, como
se o verso popular fosse a imagem do arcaico e do ultrapassado, algo como a
arte de um analfabeto, como nos adverte Pedro Ernesto Filho, no seu mais
recente e belo trabalho sobre a Cantoria.
O seu notável esforço, Vandinho, é parte desta cruzada pela
desmistificação destes conceitos e preconceitos, principalmente para não
estender uma polêmica a partir de uma segregação desinteligente e que estabelece
confrontos desnecessários, como se tivéssemos polos de cultura de elite e polos
de cultura popular.
O que o Ceará Diverso nos mostra a cada dia está verdadeiramente
impregnado de uma genialidade construída por tradições e costumes e que resiste
a mais leviana insinuação de que se trata de algo superficial, não deixando de
contribuir para fortalecer tantos artistas na sua própria profissão.
Desejo também enaltecer este espírito que sua ação exerce frente a este
programa, promovendo em suas edições o esclarecimento, o conhecimento
pedagogicamente apresentado para suportar uma mensagem que nos assegura o
quanto esta cultura nos deleita, mas principalmente nos enriquece.
Eu o cumprimento com entusiasmo, Vandinho Pereira, porque neste mister você
também se tornou um grande mestre.
* Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM
Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 17.12.2014