Lançado às pressas para tentar conter o desgaste provocado pelos movimentos de rua, o programa Mais Médicos já é tratado como uma espécie de "galinha dos ovos de ouro" pela presidente Dilma Rousseff e seus principais aliados. Ela avalia que a medida poderá ser decisiva para acelerar a retomada de sua popularidade e que servirá como uma das principais locomotivas de sua campanha presidencial em 2014.
Até os ministros do governo estão empolgados com o frenesi em torno do programa, pois também esperam que ele possa ajudar a impulsionar suas próprias campanhas, já que 25% deles disputarão um cargo eletivo no ano que vem - para governador, deputado ou senador.
Durante encontro na última quinta-feira, no Palácio do Planalto, 20 ministros se reuniram com o titular da Saúde, Alexandre Padilha, para falar sobre a vinda dos médicos do exterior para o Brasil.
Muitos queriam saber do colega se mais profissionais continuariam a chegar em ritmo acelerado. Padilha respondeu que sim. Eles aproveitaram para relatar a ansiedade de moradores de seus colégios eleitorais para receber os doutores.
A equipe de marketing presidencial pretende incluir o Mais Médicos no pronunciamento que Dilma deve fazer no dia 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil. O staff do marqueteiro João Santana também está registrando em foto e vídeo o passo a passo dos estrangeiros.
Bandeira. O governo avalia que, além de ser uma poderosa arma para cacifar a candidatura de Padilha ao governo de São Paulo, o Mais Médicos não vai, sozinho, promover uma revolução na saúde nacional, mas pode virar a primeira bandeira concreta do PT na área da saúde, fato que nunca ocorreu nos dez anos em que o partido vem ocupando a Presidência.
A aposta se dá por dois motivos principais. Primeiro, porque o governo federal está surpreso com a repercussão em torno do tema e acredita que as resistências iniciais ao programa se transformaram quase em um debate contra xenofobia e o elitismo no atendimento médico do País.
"Já lançamos programas tão bons quanto esse, como o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), mas não 'pegou'", diz um auxiliar direto da presidente. "A hostilidade e a falta de argumentos sensatos da classe médica estão nos fazendo um grande favor para conseguirmos defender a medida", afirma essa mesma fonte.
Um ministro bem próximo de Dilma tem a mesma visão: "Esses médicos (que são contra) estão fazendo campanha para nós". Para o governo, a imagem de profissionais cubanos sendo vaiados por médicos jovens envolveu em uma discussão sobre racismo e corporativismo uma parte da população que estava à margem do debate, por não ser alvo desse tipo de atendimento, despertando sentimento de solidariedade aos estrangeiros, especialmente nas redes sociais.
Melhor que nada.
A outra questão que pode ajudar Dilma nas urnas é a capilaridade ainda maior que o governo federal conquistará com o envio de 4 mil médicos a grotões do Brasil. A expectativa de sucesso político do programa se baseia especialmente na base de comparação que o paciente terá: sempre de "upgrade" quando comparar o novo atendimento à ausência completa de profissionais. O famoso "melhor que nada".
(Agência Estado).